Quem, arfando, rebusca o caminho
definha aos pés de sinistras hordas
na repulsa de um novo dia
na catatonia de uma mesma noite
parado naquela tecla
horas
prostrado diante daquela ideia
eras
sorvido pela nuvem
de vapores líquidos
de amores sórdidos
a morte súbita
a vida implícita
séculos de uma obediência cega
e silêncio
a dor que não o matou
o amor que não viveu
a fome que nunca sentiu
a sede que jamais saciou
está no enredo
contado em letras e espaços
em vozes e pausas
em melodia
tramados em ponto cruz
na foz
de tudo o que existe
e insiste em se expor, bandeira
e colide com o torpor, maneira
estabelece a condição
de quem escolhe viver
à mercê do mundo
na humilde loucura de escrever.